Segue um relato resumido do meu primeiro bate papo com um Psicólogo Evolucionista Acadêmico sobre um caso de consultório, a partir do qual comecei a me interessar por esta abordagem na clínica.
-Quando busquei Roberto na sala de espera tive a impressão de alguem doente ou que teria saído de uma doença grave há pouco. Muito franzino e magro aparentando fragilidade com cabelo cortado quase máquina zero e com pouquíssima sombracelha, apenas um pequeno tufo na altura do meio dos olhos. As feições de Roberto nariz, boca, e rosto em geral eram delicadas com dentes perfeitos e bem branquinhos mas todo o conjunto parecia visual de alguma “tribo” ou talvez homossexual. Sua queixa principal é que não tinha um relacionamento sexual ou amoroso com nenhuma mulher há três anos. Colocou que se sentia abatido por ser careca já que havia descoberto que um tratamento de calvice que vinha fazendo com um médico, não daria resultado. Sua família (pai, mãe, duas irmãs e ele) é crente praticante e Roberto se sentiu oprimido por este fervor religioso na infância e adolescência. Teve algumas poucas namoradas dos vinte aos vinte sete anos quando então o problema do cabelo o levou a se isolar até ficar um ano fechado num quarto em depressão. Trancou a faculdade de engenharia. Um dia um ex aluno particular de física ligou pedindo ajuda e Roberto depois de relutar e frente a insistencia deste aluno, acabou aceitando e saiu do que chamei de “hibernação”. Daí um aluno indicou outro e outro e assim se desenvolveu uma carreira de professor de física hoje em um Colégio-cursinho de pré-vestibular famoso sendo muito valorizado e com uma promissora carreira no magistério, onde ele sempre desejou trabalhar. O que você acha?
-Fiquei pensando nesta questão da sombracelha. Talvez a sombracelha traga mais problema com a imagem dele do que a falta de cabelo. Acho que há um problema na aparencia mesmo, que deve dificultar a aproximação às mulheres.
-Mas a boa prática não indica eu problematizar a sombracelha se ele mesmo não se incomoda com ela. Inclusive eu perguntei sobre isto e ele disse que a mãe tambem tinha a sombracelha como a dele sem dar muita importância. Então pensei que é meu conceito e não dele.
-Mas há um padrão esperado pelas pessoas. Há uma “busca” por este padrão quando alguem olha para ele. Uma pessoa com pouca ou sem sombracelha é bem desconfortável ao olhar.
-Meu movimento como terapeuta é tentar encontrar o que poderia estar alem do discurso manifesto. Se a verdadeira questão não estaria ligado a rigidez religiosa da família, por exemplo, e a questão da falta de cabelo fosse uma explicação mais fácil para coisas mais difíceis de serem abordadas.
-Me parece que existe um ponto em que o cuidado em não criar uma questão que o cliente não trouxe, acaba ficando em segundo plano, já que uma característica visualmente desconfortável, ninguem fala, ninguem quer magoar. Mais terapeutico é falar com cuidado mas falar essa questão com objetividade. Parecido quando se tem que dizer a um amigo que ele tem mal hálito.
A maneira como os nossos ancestrais tinham de reconhecer um parceiro saudável era através de sinais no corpo como pele, cabelo, dentes, etc. Nossos módulos cerebrais procuram instintivamente avaliar estes sinais nas pessoas. Em relação ao homem estudos (que estou procurando para postar) mostram que um dos sinais ligados a características masculinas importante em relação à virilidade está a espessura da sombracelha. Neste sentido a desvantagem de Roberto é grande. É importante colocar que se trata de um dado médio universal. Não quer dizer que qualquer homem que tenha pouca ou nenhuma sombracelha nunca vai ter uma parceira. É obvio que existem muitos outros fatores relacionais. Mas neste caso a queixa de Roberto está ligada a dificuldade de ter uma namorada e o tipo frágil dele realmente chama a atenção.
O que deve dizer um Psicólogo Evolucionista que lida com esses dados? Devemos investigar os problemas com a religiosidade da família dele e outra questão histórica, ou sugerir que um tratamento para adquirir sombracelha pudesse fazer uma grande diferença na autoconfiança dele?
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