quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Caso César - Conversa com um Evolucionista


- César me procurou logo após sua separação esperando que a terapia o ajudasse a recompor seu casamento ou pelo menos entender melhor o que estava se passando que o levou a estar separado. Seu relato relacionava seus problemas matrimoniais com um descontentamento no trabalho, tanto quanto às perspectivas de cresimento que este oferecia assim como sua capacidade financeira de dar maior conforto à família. Dizia que sua mulher vinha se afastando sexualmente desde o nascimento de seus filhos de 11 e 8 anos até que ela começou a apresentar um certo comportamento obcessivo em relação à limpeza e repugnância em relação a ele. De modo muito incisivo César colocava que poderia ir negociando qualquer coisa na relação contanto que sua mulher Suely permanecesse o que ele chamava de uma “mulher sexualmente quente”. Impressionou-me o desejo sexual intenso que Suely ainda despertava em César mesmo depois de longo tempo juntos. César saiu de casa por causa do fim das relações sexuais do casal, o que ele absolutamente, não aceitava. O tema das brigas do casal iam desde uma competição para saber quem estava mais bronzeado ao voltar da praia até a insatisfação dela em ter que “ sair para trabalhar para ajudar no sustento da família”. Tivemos uma sessão em que convidamos Suely para participar tambem, o que foi muito interessante. Ela reclamou de comportamentos “obcessivo” de César pois este por exemplo “obrigava as crianças a fazer cocô ao chegar da escola e antes do banho” o que gerava uma tensão pois as crianças não estariam com vontade aquela hora e César estaria querendo repetir com as crianças o modelo que ele usava para ele. Neste momento Suely mostrou sua irritação com a família de origem de César pois ela dizia que eles se achavam possuidor de um sobrenome que os colocavam, na opinão deles, num patamar mais elevado. Expressou seu descontentamento e uma certa raiva em relação à sogra, como que essas manias de ritualizar o cotidiano das crianças fossem influencia direta ou indireta dela. Uma outra colocação de Suely foi muito curiosa, onde afirmou se surpreender tambem com o enorme desejo que César ainda tinha por ela já que na sua auto avaliação ela estava com os “seios e tudo mais caídos”. Na ocasião da separação, César e Suely combinaram que, uma vez por semana, almoçariam juntos para que desta forma pudessem organizar o pagamento de contas e o cuidado com as crianças. Foram então no decorrer desses encontros, criando acordos que viabilizassem a volta de César para casa. Tiveram uma primeira relação sexual após este retorno que segundo Suely foi carregada de insegurança, mas que ao longo de um curto espaço de tempo as relações ficaram bem satisfatória como costumavam ser para ela também. Numa outra sessão após o retorno de César para sua mulher e filhos, este se mostrou preocupado com a possibilidade dos detonadores das brigas estarem se armando de novo. Suely teria exigido que César não encontrasse sua própria mãe sem que ela estivesse junto, pois só dessa maneira ela se seria a “mulher quente” que César desejava. Nesse momento do relato de César eu tive dificuldade de ter um distanciamento terapêutico, pois tive o impulso forte de condenar o que interpretei como uma chantagem das mais rasteiras. Cheguei a aceitar sem auto-crítica, minha escuta pobre e benevolente em favor do meu cliente, até que me vi num nó terapêutico, tomado por uma dose de emoção acima do desejável. Como você pensa tudo isso?

- De tudo que você falou, o que eu achei mais importante é o fato dele estar com dificuldades financeiras e a insatisfação da mulher em ter que trabalhar também.
Existem sinais e características naturalmente selecionadas na mulher do que ela espera encontrar em um homem que o capacite a ser o pai e provedor de seus filhos, assim como os homens foram naturalmente selecionando ao longo da evolução, sinais e características que ele reconhece na mulher, que aumente a probabilidade desta gerar e cuidar bem de seus filhos. Há um estudo por exemplo, que mostra que mulheres com corpo em formato de violão próximo a uma razão de mais ou menos 0,70, têm aumentado suas chances de serem escolhida por parceiros quanto mais perto deste coeficiente suas medidas estiverem. Estas medidas podem indicar um quadril mais apto à uma gestação saudável. Este dado talvez explique porque apesar de Suely dizer que seus seios estão caídos e não se sentir tão atraente, César se sente ainda tão sexualmente atraído por ela. Provavelmente é o “desenho” de seu corpo que o satisfaz . Mas voltando aos sinais e caracteísticas esperados, acho compreenível que ela esteja uma mulher menos “quente” enquanto ele estiver um homem menos “provedor”.

- Mas como a compreenção destes “papéis” evolutivamente esperados, podem tornar meu cliente menos angustiado com seu casamento, mesmo levando em conta os benefícios terapeuticos que a exposição e compreenção da sua dinâmica já oferece? O que mais a terapia podería oferecer a partir daí?

- Me parece que o fato é que ele deve se esforçar para se tornar um provedor mais eficiente para que ela se torne a mulher mais “quente” que ele deseja. É natural que esta relação esteja envolvida e que ele tem que lidar com isso.

2 comentários:

Anônimo disse...

E o que vem depois

Mauro Laskowsky disse...

É importante que durante o processo de terapia, possa se ter em mente o dado de como de modo universal, funciona a Psicologia da relação marido e esposa e começar um trabalho em que analisemos as singularidades da relação deste casal dentro desta perspectiva.