domingo, 30 de março de 2008

Os erros de Freud




Um amigo me pediu que comentasse o texto abaixo. Então vamos lá.

ZWEIG E FREUD.
Uma análise de Stefan Zweig sobre Freud diz:-"Sabemos que Freud começava sempre uma psicanálise pela investigação do passado;agia do mesmo modo ao cogitar da civilização da alma enferma,lançando um olhar retrospetivo às formas primitivas da sociedade humana

Para Freud o homem pre-histórico não tinha freios,ignorando costumes e leis,animal,livre e virgem de qualquer restrição.
Aí os instintos agressivos levam ao assassinato,canibalismo,pansexualismo e incesto.

Mas,apenas formado o grupo,o clâ, aparecem as restrições,costumes,direitos,convenções comuns que acarretam castigos pelas transgressões.

Em breve o conhecimento das interdições e castigos deslocam o desejo para o interior e criam no cérebro,até então bestial e limitado,uma instância nova,um "super-eu",a consciência .

Aí nasce a cultura,e ao mesmo tempo a ideia religiosa.

Assim os limites se opôem à natureza,ao instito humano do prazer e se concebe um adversário formidavel,um "D´us pai" com poder ilimitado de recompensar ou castigar,um D´us de Terror,a quem devemos servidão e submissão.
E o homem encurralado,graças a essa autofrenação,a essa renúncia,a essa discip-lina e autodisciplina,de bárbaro se torna civilizado.

Assim estas forças lutam,e tendo aprisionado o raio,domesticado o frio,vencida a distância,dominado as feras pelas armas,a agua,terra,ar e fogo,o homem quase pode se considerar igual á D´us.

E Zweig pergunta a Freud:-Por que apesar desta paridade com D´us a humanidade não é mais feliz,mais jovial?Por que não se sente o nosso "eu" mais profundamente enriquecido,liberto e salvo por todas essas vitórias civilizadoras?

Freud,enérgico e inflexivel responde:-"Porque este enriquecimento não nos foi dado gratuitamente,e sim pago com uma inaudita perda da liberdade de nossos instintos,um decrescimo da força afetiva da alma individual.

""As restrições sociais ,de século a século mais rigorosas,endurecem e retardaram nossa força afetiva "pricipalmente a vida sexual do homem.

As artes,a ciencia,a tecnica procuram iludi-lo,mas os instintos-o incesto,o parricidio,o pansexualismo obsedam seus sonhos e desejos.
Assim em todos nós,apesar da "civilização" em certos momentos, o nosso "eu" tem a doida nostalgia do anarquismo,da liberdade nômade,da animalidade do começo dos tempos.

E se perguna,se não foi espoliada pelo progresso,e se a socialização do"eu"não lhe prejudica o "eu"mais profundo.

ZWEIG prossegue:-Conseguirá a Humanidade-procurando o futuro-dominar essa inquietude,esse dualismo,esse despedaçamento da alma"?
Freud diz-"Desorientada,hesitante entre o temor de D´us e o prazer animal,travada pelas interdições,atormentada pela neurose da religião,a alma procura uma saida.

Conseguirá esse conflito afetivo tão secreto chegar à luz da conciência?

Retirado e inspirado em:-"A cura pelo Espírito"de Stefan Zweig

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A colocação de que o homem passou a ter freios, passou a ter costumes e leis e que antes era virgem de qualquer restrição não é verdade há mais ou menos 200 mil anos desde que o nosso cérebro evoluiu ao tamanho atual. Os mesmos módulos cognitivos que a evolução arquitetou no tal homem pré-histórico para enfrentar a vida de caçador e coletor se encontram ainda nas pré-disposições mentais do homem atual. Apenas, assim como o ambiente se modificou se modificou as práticas humanas também. Mas os instintos são os mesmos. Se amanhã faltar comida, ar limpo e água para todos, os mais fortes vão atacar os mais fracos pela sobrevivência.

A cultura não "consertou" o homem. A cultura é uma tecnologia de convivência. O incesto não é uma prática reprodutiva eficiente e nunca foi padrão em nenhuma cultura humana nem na pré-história. Os indíviduos que tendiam por alguma pressão hormonal a copular com a genitora, irmãos e irmãs, deixaram menos descendentes saudáveis até o ponto em que desapareceram. Realmente, crianças em certo ponto de seu desenvolvimento desejam instintivamente esfriar a relação da mãe com o pai e isto ocorre, segundo os Psicólogos canadenses Margo Wilson e Martin Dale, porque intuem que esta relação é capaz de gerar pequenos rivaiszinhos na luta pelos receursos propiciados por esses pais.

O homem é uma espécie animal que desenvolveu um módulo complexo de linguagem. Isso otimizou a produção de recursos em abundância o que tornou as relações sociais e a luta pela sobrevivência menos violenta(sim, é menos violenta atualmente).

O limite da cultura é o limite da natureza humana. Nossos instintos continuam lá do mesmo jeito que evoluíram na África. Nossa espécie foi caçadora e coletora 99% do tempo em que estamos na Terra. Sendo assim a cultura é a passagem de tecnologia de convivência e subsistência cujas regras de alguma maneira também estão sujeitas à seleção natural. As boas idéias vão passando culturalmente de geração em geração e as idéias que não se mostram "boas" acabam desaparecendo como o comunismo por exemplo.

As tais restrições que a cultura promoveria nos nossos "instintos pré-históricos", são produtos de melhores soluções médias para vida em grupos sociais, grupos estes muito maiores do que na nossa vida ancestral. O desenvolvimento da linguagem e escrita e exploração geográfica tornou a disseminação dessas soluções mais dinâmicas.

Além disso, nossos instinto selvagens não são destrutivos e violentos. Somos cooperativos e altruístas também mas como tudo em nós inclusive o aculturamento, está relacionado a uma contabilidade que leva em conta promover as maiores chances de sobrevivência e procriação como qualquer ser vivo. Não somos bonzinhos nem malzinhos. Somos sim evolutivamente estáveis como espécie há 200 mil anos.

Quanto a religião, há uma interessante tese de Edward O. Wilson o autor que inaugurou o estudo da biologia evolutiva, segundo a qual a tendência em criar um líder merecedor de temor e respeito a qual todos estão subjugados em troca de proteção e recursos também está presente em alguns primatas, portanto seria um módulo adaptativo herdado de um ancestral em comum há 5 milhões de anos.

Agora na minha opinião a religião como é hoje será uma dessas idéias que seleção natural cultural vai tratar de acabar lentamente em algumas centenas de anos.

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