sábado, 22 de novembro de 2008
O natural e o humano
Na natureza é normal os animais avaliarem se um filhote nasce em condições de sobrevivência ou não. Aqueles que apresentam alguma deficiência são deixados de lado pelos pais, que passam a investir na prole que aparenta ter melhores condições.
Nos humanos alguns grupos praticam o infanticídio em situações em que a criança nasce com alguma vulnerabilidade que inviabilize o investimento parental em detrimento a outros filhos já nascidos ou por nascer.
Nessas culturas em que o infanticídio é uma possibilidade, a mãe nunca esquece a dor desta perda e dificilmente esquece a criança sacrificada. Portanto um acontecimento muito sentido e relevante na vida de uma mulher.
Rituais como o batismo e a circuncisão nos judeus, feitos após algum período do nascimento, podem ser entendidos aproximadamente, como o início do investimento formal a partir da certeza da saúde da criança.
Apesar de sermos parte da natureza, nossa espécie tem uma diferença fundamental em relação aos outros animais: A intensidade do sofrimento emocional.
Podemos supor que um chipanzé sofra com a perda de um filhote, mas nada comparável ao que nós humanos sofremos. O maior cérebro em relação ao corpo dentre todos os animais nos dotou da nossa maior habilidade: a inteligência. A mesma que nos faz sofrer pelo entendimento do absolutismo da perda de um filho em qualquer circunstância.
Imagino a “surpresa” dos nossos ancestrais que começaram antever e entender situações que podiam levar ao estado de algo inédito: o sofrimento emocional.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Psicologia do golpe do seqüestro
Muita gente no Rio de Janeiro tem sido vítima do golpe do seqüestro por telefone. Bandidos ligam para a casa da pessoa, dizendo que estão com um parente e pedem um dinheiro que deverá ser levado em algum ponto da cidade em troca do parente em questão. Geralmente eles instigam a pessoa a dizer o nome do seu próprio filho sem perceber e usam esse nome para desesperar a vítima.
Mas o que me tem chamado a atenção é o fato de que mesmo sabendo deste golpe já muito divulgado, as pessoas caem nele assim mesmo.
E o mais extraordinário é o seguinte: Todas as mães de conhecidos que tenho conversado (inclusive a minha própria), juram que ouviram a voz de seus filhos no fundo, pedindo ajuda. É quase um experimento involuntário e mórbido da incrível distorção que podemos fazer de nossos sentidos. Essas mães por algum mecanismo emocional incrível ouvem a voz de seus filhos mesmo não sendo eles a gritar no fundo na ligação.
Imagino que as mães quando percebem do que se trata o telefonema acima, colocam toda a sua atenção sensorial em cada micro ruído que seu ouvido é capaz de ouvir vindo do outro lado da linha. Esta super atenção, estando elas sob estresse, deve confundir a capacidade de avaliação da vítima a ponto dela acabar sucumbindo pela forte emoção.
Essa questão me veio à cabeça quando estava lenda um texto sobre “lembrança de vidas passadas” e também considerei as pessoas que juram terem vistos ETs, enfim crenças não comprovadas cientificamente mas que rondam o imaginário de um modo geral. A certeza que as pessoas têm de terem presenciado aparições ou fenômenos dessa natureza, deve ter um mecanismo cerebral semelhante de engano ou auto-convencimento ao que as mães acima sofrem.
Não é a toa que no meu caso particular foi meu padrasto que é Físico, portanto um homem acostumado com evidências, que salvou minha mãe do golpe, tendo a idéia de falar um nome qualquer para induzir o bandido ao erro evidenciando que se tratava de um golpe.
sábado, 8 de novembro de 2008
Solidariedade à dor alheia
A capacidade de identificar e compartilhar o sentimento de outra pessoa é uma das características mais impressionantes da nossa espécie.
Imagine alguns antílopes confortando uma antílope mãe, após seu filhote ter sido caçado por leões!!!
Nossa espécie é a única que conforta seus semelhantes na dor. Somos capazes de identificar a dor do outro e sentir fisiologicamente o que este outro deve estar sentindo.
Se o vizinho com quem nunca falamos antes perde um filho jovem, somos capazes de chorar pela dor que ele deverá estar passando.
Em algum momento da nossa evolução passamos a ter comportamentos que vão além dos mínimos necessários para simplesmente comer e reproduzir. Pelo menos comportamentos diretos para estes fins.
Funcionou assim:
Em algum momento da nossa vida ancestral, os indivíduos que tinham a capacidade de se solidarizar deixaram mais descendentes do que aqueles que não se solidarizavam. Até o ponto que os últimos praticamente desapareceram. Portanto ser solidário, ser capaz de sentir o que o outro está sentindo, passou a ser mais vantajoso evolutivamente falando, do que não o ser.
Nenhuma outra característica nos tornou mais “homo sapiens sapiens” do que esta. Nada nos distingue tanto entre os outros animais, do que ser capaz de confortar um de nós que sofre.
As pressões evolutivas que forjaram a empatia, a solidariedade nos humanos, acabaram por criar um das dinâmicas comportamentais mais impressionantes da evolução.
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